CAPÍTULO 27: Aproxime–se, papai
“Alessandro” (1
Percebi durante o percurso que a Catarina estava muito tensa e preocupada, fosse o que fossetinha mudado o estado de ânimo da minha assessora. 1
Quando chegamos ela desceu do carro correndo e eu segui em seu encalço. Ela me olhou como se quisesse perguntar o que eu estava fazendo e me apressei em responder:
– Vou te acompanhar, não sei qual é a emergência, mas você pode precisar de ajuda.
Ela não disse nada, apenas concordou. Quando entramos em seu apartamento, uma senhora veio ao nosso encontro.
– Catarina, que bom que você chegou, eu ia te ligar. – a mulher falou preocupada. 3
– Onde ele está, Lygia? – Catarina perguntou aflita.
–
Está no quarto e a febre aumentou. Eu vim buscar aguar pra ele. – A mulher respondeu enquanto eu pensava quem diabos é ele? 2
Catarina irrompeu corredor adentro e eu não me contive, fui atrás. Quando entrei no quarto a vi pegar uma criança no colo e cheia de doçura dizer:
– Calma, meu amor. A mamãe chegou.
Mamãe? Ela é a mamãe? Minha cabeça girava enquanto eu olhava aquela cena. Como é que eu não sabia que ela tinha um filho? 5
A senhora entrou no quarto e falou: (1)
– Acho que é melhor levá–lo ao médico. Pode não ser nada, mas febre em crianças tão pequenas pode ser tudo. (3
–
– Eu vou levar sim, Lygia. Vou colocar uma roupinha mais quente nele. Você pode arrumar a bolsa dele pra mim? 3
– Claro, querida. Vou pegar a roupinha dele pra você.
Eu assistia imóvel a interação das duas e sem conseguir falar. Eu ainda pensava apenas “mas ela tem um filho?“. De repente, fui tirado do meu transe pela voz da Catarina.
– Alessandro, muito obrigada por me trazer, mas eu preciso levar meu filho ao hospital.
Eu pisquei duas vezes para ela antes de dizer: 4
–
– Vamos, eu levo vocês.
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–
– Alessandro, não precisa eu pego um taxi. 2
– De jeito nenhum, Catarina! Vamos! – falei firme deixando claro que a decisão já estava tomada. 4
Saímos e eu os ajudei a entrar no banco de trás do carro. Dirigi o mais rápido que pude até o hospital vendo pelo retrovisor o semblante preocupado da Catarina. Os deixei na porta do hospital e fui estacionar. Quando a encontrei dentro do hospital ela olhou pra mim como se visse um unicórnio.
–
O que você está fazendo aqui? – perguntou confusa. 3
Me sentei calmamente ao seu lado, olhei para aquele garotinho sonolento agarrado ao colo da mãe e olhei em seus olhos antes de dizer:
– Eu não vou deixar vocês dois sozinhos!
Ela me olhou com lágrimas nos olhos e agradeceu. 2
– Então, Cat, quando ia me contar que tem um filho?
Ela me olhou confusa e então compreendeu: 1
– Não é um segredo, eu nunca esconderia meu filho, inclusive a Mariana o conhece, mas o assunto só não surgiu. 1
– A Mari o conhece?
– Sim, no dia em que recusamos jantar com vocês é porque iríamos jantar em minha casa com
a Mel e o Pedro.
Olhei surpreso pra ela e com um sorriso começando a surgir em meu rosto. 1
– O nome do seu filho é Pedro?
– Sim, Sr. Mellendez, esse aqui é o Pedro Vergara. Esse rapazinho é o sol da minha vida. – Ela me respondeu sorrindo e com orgulho de mãe. 5
ONE
Que coincidência, Pedro era o nome do meu pai. – falei com uma pontada de saudade. – Por quê escolheu esse nome?
– Porque Pedro significa pedra, rocha, e meu filho é a minha rocha, ele me dá forças todos os dias para seguir em frente.
– Que bonito, Cat! Sabe, depois que meus pais morreram eu decidi que quando tiver o meu primeiro filho ele se chamará Pedro, uma homenagem ao meu pai. Ele era a minha rocha, Catarina. 5
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Ela me olhou com ternura e colocou a mão em meu rosto dizendo: 1
–
Seu pai criou um grande homem. Tenho certeza que ele está em paz. 3
Essas palavras realmente me deram tranquilidade. Mas eu fui invadido por uma curiosidade
que normalmente eu não tinha, eu queria saber sobre o filho dela. 2
– Cat, e o pai do Pedro?
–
–
– Ele não sabe que o Pedro existe. É uma longa e embaraçosa história. Posso te contar depois?
ela me olhou com olhos suplicantes. 5
– Claro que sim. – Sorri e passei o braço ao redor de seus ombros.
—
Rapidamente o médico chamou e fiz questão de entrar com ela, estava segurando a bolsa dela e a bolsa com as coisas do menino. O médico fechou a porta e mandou que sentássemos enquanto fazia as perguntas de praxe. Catarina, respondia a tudo com tranquilidade.
O médico disse para ele colocar o menino sobre a mesa de exames e se virou pra mim:
– Aproxime–se, papai, pode acompanhar o exame mais de perto também. 3
Catarina ficou constrangida e já estava abrindo a boca para falar, mas eu me adiantei. 1
– Ah, claro, doutor. Sabe como é, a gente fica tão preocupado que até se paralisa. 2
O médico sorriu pra mim indulgente dizendo:
– Sei como é, sou pai de cinco, agora todos adolescentes, mas mesmo sendo pediatra sempre me assusto quando ficam doentes. 1
Catarina olhava a cena confusa. E ficou me encarando enquanto o médico examinava seu filho. Foi até engraçado e eu quase ri da situação, mas eu não iria desfazer o engano do médico e deixar a Catarina constrangida. (1)
Após o exame o médico chamou a enfermeira e pediu uma coleta de sangue, informando que era só por precaução, mas o que o garoto tinha era um resfriado mais forte. 4
Como Catarina havia dito que ele havia começado a freqüentar a creche, provavelmente contraiu de algum amiguinho e que agora que ele estaria em contato com outras crianças estaria mais exposto a doenças infantis, mas era normal e bastava que ela ficasse atenta.
Verificou que as vacinas do menino estavam todas em dia e que o histórico médico enviado pelo pediatra da outra cidade era muito completo, elogiando por ela ter tido a iniciativa de buscar o histórico médico quando se mudou para entregar ao novo pediatra. Catarina era uma mãe eficiente, tinha tudo em ordem e, mesmo trabalhando o dia todo, sabia de cada detalhe, 2
O médico disse que assim que o resultado dos exames saísse entraria em contato, mas o garoto
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não poderia ir a creche enquanto não estivesse melhor para não espalhar o vírus, encerrando a consulta. Agradecemos e saímos. 3
–
– Alessandro, obrigada por tudo. Você não imagina como me ajudou hoje. 2
– Não agradeça, Catarina. Você vai me contar direitinho a história do seu filho. Agora vamos, vou levá–los pra casa.
Fizemos o caminho em silêncio, parei em uma farmácia e sob seus protestos peguei a receita de suas mãos e comprei os medicamentos. Quando chegamos, mais uma vez ela se surpreendeu porque eu não fui embora. Entramos em sua casa e a Melissa veio correndo.
Amiga, o que o Pedrinho tem? Por que você não me ligou? Cheguei agora há trabalho e vi seu bilhete.
pouco do
– É só um resfriado, Mel. Sente–se, Alessandro, fique à vontade, vou dar os remédios para o meu filho e colocá–lo na cama, já volto. Me ajuda, Mel? – ela falou pra amiga que me olhava com um sorrisinho no rosto. 2
Elas entraram e eu me sentei. O apartamento era muito bonito e tinha uma linda vista. Quando Catarina voltou estava usando um vestido azul marinho longo, parecia cansada.
Alessandro, aceita um café? 1
– Catarina, você está cansada. Eu já estou indo, já que a Melissa está em casa e vocês não ficaram sozinhos. Se precisar de alguma coisa me liga. 2
Passei os dedos na bochecha dela e fui em direção à porta. 3
– Obrigada por tudo, Alessandro. – ouvi ela dizer, me virei e sorri pra ela. 2
Fui pra casa com milhões de perguntas martelando em minha cabeça. Eu sentia uma familiaridade com aquele garoto que só podia ser porque estava envolvido com a Catarina. Enquanto ela o segurava no colo ele mantinha os olhinhos fechados, mas o rostinho dele tinha algo de familiar pra mim, algo que me despertava um sentimento que eu não conseguia discernir. Mas eu não entenia por que eu estava tão inquieto. Por que eu senti tanta necessidade de não deixá–los sozinhos? Por que eu estava tão curioso sobre esse menino? Quem seria o pai do filho dela? Minha cabeça girava com muitas perguntas e nenhuma resposta. 27