Capítulo 31
Chegando na antiga casa, meu coração já não se agitava mais pelos traidores.
Senti falta da minha vovó.
Se eu soubesse que a última vez que a vi, uma semana antes do meu casamento, seria realmente a última, eu teria passado mais tempo com ela.
Quase meio mês se passou, será que a saúde da vovó havia melhorado?
Nelson pediu permissão à vovó e, com a concordância dela, cruzou a porta com um sorriso gentil no rosto.
“Vovó, eu vim visitá–la.”
Talvez com medo de que ela se preocupasse demais, ele mal entrou e já encontrou uma desculpa: “Eu me atrasei um pouco por causa de uns negócios, então mandei a Marlene vir primeiro. Como está se sentindo?”
Sem receber uma resposta, ele viu um frasco de remédio voando em sua direção.
A força limitada de sua vovó não foi suficiente para atingi–lo, e o frasco se despedaçou aos pés
de Nelson.
Ele sabia que a vovó o havia repreendido por ter fugido do casamento. Consciente de sua culpa, ele não ficou com raiva.
Pelo contrário, avançou em direção à vovó.
Eu também vi a vovó deitada na cama, parecendo ainda mais fraca.
Querendo se levantar, ela foi rapidamente auxiliada por uma empregada.
“Vovó, vá com calma.” – Nelson apressou–se em direção a ela para ajudar, reclamando: “Essa Marlene… Sabe muito bem que a senhora não está bem, e ainda assim, onde foi parar em um
momento desses em vez de ficar ao seu lado?”
Assim que se aproximou, a velha lhe deu um forte tapa no rosto.
“Quem disse que você pode me tocar? Saia daqui!”
O sorriso no rosto de Nelson congelou por um momento, mas, sendo uma anciã, ele se conteve e disse pacientemente: “Vovó, eu sei que cometi um erro. Estou aqui para receber o castigo que a senhora achar justo.”
“Mamãe, o que está fazendo? Seu neto veio visitá–la com boas intenções, por que bateu nele?” – Minha mãe ainda não havia chegado, mas sua voz já era audível.
Vovó afastou a mão de Nelson, permitindo que a empregada a ajudasse a se deitar nos
travesseiros.
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Ela apontou com raiva para Nelson e disse: “Não reconheço um neto com um coração tão frio e
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Capítulo 31
ingrato. Ah, como me arrependo… Naquela época, quando a família Lopes enfrentava dificuldades financeiras, eu não deveria ter ouvido Marlene e pedido ao velho que emprestasse dinheiro para vocês. Salvamos vocês a duras penas, e tudo o que ganhamos foi um traidor ingrato! Seu moleque, você teve coragem de deixar a minha neta sozinha na cerimônia de casamento. Que crueldade!”
Enquanto falava, lágrimas começaram a escorrer de seus olhos.
Meu coração, que estava morto por causa do amor e da família, reviveu naquele momento.
Ajoelhei–me ao lado da cama, implorando: “Vovó, não fique triste, por favor, não chore… eu
voltei…”
Tentei enxugar suas lágrimas várias vezes, mas meus dedos só passavam sobre seu rosto.
Ela não conseguia ouvir minha voz nem ver minha ansiedade.
“Mamãe, você não pode culpar o Nelson. Ele fez aquilo pela Mirella, você sabe que a saúde dela não está boa. Era uma questão simples, mas foi aquela ingrata da Marlene que fez questão de transformar tudo em um escândalo.”
Mas a vovó, já enfurecida, não deixou por menos e apontou o dedo imediatamente para ela. “O que você está dizendo? Como pode? Sua própria filha foi abandonada no altar, e ao invés de culparem o responsável, vocês ainda têm a coragem de acusar a vítima? Estão malucos? Desde que Mirella voltou, esta casa tem estado em constante discórdia. Já era ruim antes, agora chegou a esse ponto, vocês ainda colocam a culpa em Marlene como se fosse algo insignificante…”
“Por favor, mamãe, não se irrite. Não é culpa nossa se a Marlene insiste em causar problemas. Quem não deseja que a família viva em paz?”