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Capítulo 30
“Mesmo que não entregue tudo, ele pode acabar ficando com a maior parte. E aí, você, o neto legítimo e herdeiro direto, terá que se submeter a um bastardo? Isso não seria motivo de piada se viesse a público?”
Vitor percebeu que o clima estava bom e colocou mais lenha na fogueira.
“Embora ele seja mais valorizado do que você, você tem duas vantagens. Em primeiro lugar, você não tem uma deficiência física como ele. Em segundo lugar, o velho gosta de Marlene. Se você puder ter um filho logo, o velho, pensando no bebê e na Marlene, certamente lhes dará as ações da empresa.”
Vitor se levantou: “Não preciso dizer mais nada, não é? Cuide bem da Marlene, e estabeleça limites com a Mirella. Amanhã será a melhor oportunidade.”
Nelson acompanhou Vitor até a porta. “Papai, agora eu sei o que fazer. Não vou cometer mais nenhum erro.”
Sentado no terraço, estendi a mão para pegar os flocos de neve que dançavam no ar, vendo–os passar lentamente pela minha palma, com um sorriso frio surgindo em meus lábios.
Nelson, agora era tarde demais para se arrepender.
Como uma pessoa morta poderia lhe oferecer uma chance de perdão?
Eu já aceitei o que me tornei agora, presa entre a vida e a morte.
Restava–me apenas observar como espectadora se Nelson enfrentaria consequências no futuro.
Depois que Vitor saiu, Nelson ficou imerso em preocupações.
Era evidente que o retorno de Nilton ao país representava uma ameaça enorme para ele.
Ele discava meu número repetidamente, mas a mensagem automática informando que o telefone estava desligado só aumentava sua inquietação.
Na escuridão da noite, eu o ouvi sussurrar: “Marlene, até quando você vai continuar com isso?”
Ele ainda se recusava a aceitar a realidade, achando que tudo era culpa minha.
Inquieto, Nelson passava os dedos repetidamente pelas contas da pulseira em sua mão, como se o gesto pudesse acalmar suas emoções e trazer–lhe algum controle sobre a situação.
Minha alma estava conectada a isso, agora com uma camada extra de sensibilidade.
Mas depois de vê–lo com Mirella, cada toque dele me enojava ainda mais.
No dia seguinte.
Nelson vestiu um terno escuro especialmente escolhido, combinando com a gravata que eu lhe dera tempos atrás.
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Com o presente para a vovó em mãos, dirigiu–se à casa da família Barbosa.
O assistente perguntou gentilmente: “Sr. Lopes, a senhora já voltou?”
Nelson esfriou por dentro e respondeu friamente: “Ela deve ter ido para a Mansão Jardim Tropical da família Barbosa. Sabemos o quanto ela valoriza a vovó, e agora, com a saúde dela tão debilitada, é certo que Marlene foi visitá–la antecipadamente.”
Quanto ao fato de eu não ter entrado em contato com ele, certamente era apenas mais uma birra minha.
O banquete de aniversário estava marcado para a noite, e a casa ainda não recebera outros convidados.
Mirella já o aguardava desde cedo e, ao vê–lo, correu para recebê–lo de longe: “Nelson, você finalmente chegou.”
Ao notar o terno preto que ele usava, ela fez uma careta e reclamou: “Nelson, por que você está usando preto de novo? Você parece tão sombrio e velho, como um velho chato. Eu lhe dei um terno novo de alta costura sob medida no mês passado, por que você não o usou?”
Era óbvio que Mirella queria que eles usassem roupas combinando.
Lembrando–se do que seu pai havia dito na noite anterior, Nelson tirou a mão dela de seu braço.
“Mirella, você não é mais uma criança. Homens e mulheres devem manter uma distância respeitosa para evitar fofocas.”
Mirella ficou confusa com a súbita frieza dele, já que ele havia sido tão atencioso no dia anterior.
“Nelson, eu só…”
“Chega, vou ver como está a vovó primeiro.” – Nelson, de forma incomum, ignorou o estado emocional dela e saiu apressado, sem perceber o olhar malicioso de Mirella atrás dele.
Nelson correu em direção ao pátio e parou um garçom para perguntar: “A senhorita já voltou?”
O garçom, pensando que ele estava se referindo a Mirella, assentiu: “Sim, senhor, ela chegou cedo. O senhor não a viu?”
O coração de Nelson disparou de alegria.
Ele sabia que Marlene jamais deixaria de cuidar da vovó por uma simples birra.
Com passos rápidos, ele se dirigiu à sala interna, tomado pela esperança de vê–la.
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