Capítulo 25
Mirella foi levada às pressas para o pronto–socorro, enquanto Nelson aguardava do lado de fora, visivelmente preocupado.
O assistente, cauteloso, lembrou: “Sr. Lopes, já avisei alguém da família Barbosa para vir. Devemos ir para o aeroporto agora? Se demorarmos mais, perderemos o voo.”
A Cidade das Flores era a cidade mais remota do planalto, com apenas um voo diário de Porto Sereno.
Recentemente, o clima na Cidade das Flores tem sido ruim, com voos frequentemente cancelados, razão pela qual o assistente fez o aviso gentil.
Nelson franziu a testa, claramente irritado, e o repreendeu: “Você perdeu o juízo? Marlene está bem e feliz na Cidade das Flores, ela não vai morrer. Mirella pode estar correndo perigo de vida a qualquer momento, como eu poderia deixá–la agora?”
O assistente pensou que o telefonema de Nelson de madrugada, pedindo que comprasse flores e presentes, era um sinal de que ele queria se desculpar sinceramente.
Na noite anterior, ele disse que eu era mais importante que Mirella, e hoje já mudou de atitude tão rapidamente.
Percebi o olhar do assistente escurecer, provavelmente sentindo–se mal por minha causa.
Afinal, ele havia testemunhado a mudança em nosso relacionamento desde o início e provavelmente esperava que nos reconciliássemos.
Ele abaixou a cabeça, escondendo o desapontamento em seus olhos: “Vou cuidar do cancelamento da passagem agora mesmo.”
Quando a família Barbosa chegou, a Mirella estava sendo trazida para fora da sala de emergência.
O médico, segurando os resultados do tratamento, chamou em voz alta: “Familiar da paciente!” Nelson deu um passo à frente rapidamente: “Sou eu, como ela está?”
O médico lançou um olhar rápido para o rosto ansioso de Nelson antes de responder: “Ela já está fora de perigo. Como vocês cuidam da paciente? Sabem que ela tem um problema cardíaco e, ainda assim, a submetem a situações de estresse! Se não tivesse sido atendida a tempo, ela poderia ter sofrido uma parada fatal a qualquer momento!”
“Situações de estresse?” – A mãe de Mirella olhou para Nelson: “O que aconteceu com Mirella depois que ela voltou para a família Lopes ontem?”
Nelson também estava confuso: “Mamãe, não se preocupe, eu vou descobrir o que aconteceu. O importante é que a Mirella está bem agora.”
No quarto do hospital.
Capítulo 25
A família rodeava Mirella, tratando–a como se fosse uma boneca de porcelana frágil, olhando–a
com olhos cheios de carinho.
Isso me fez lembrar de quando ainda não tinha deixado a família Barbosa, justamente durante. o lockdown da pandemia, quando meu irmão mais velho ficou preso no trabalho.
Ofereci–me para cuidar dele, mas depois que adoeci, toda a família rapidamente se mudou de casa com medo de ser infectada por mim.
Naquele momento, eu soube que a discórdia causada por Mirella entre mim e minha família
era irreparável.
Aos olhos deles, eu não significava nada.
Sempre que Mirella tinha o menor problema, eles se mobilizavam para ficar ao seu lado, e eu ficava observando de lado, com inveja.
Quando a empregada que cuidava de Mirella apareceu, Nelson perguntou com um semblante sombrio: “O que aconteceu para que Mirella fosse estimulada novamente?”
“A senhorita Mirella parece ter sido estimulada enquanto olhava o celular. Dei uma olhada rápida e todas as mensagens a insultavam.”
“Insultos? Quem fez isso?”
“Isso eu não sei, o celular da Srta. Mirella não parou desde ontem à noite, suspeito que alguém tenha vazado o número dela.”
Nelson pegou o celular de Mirella, desbloqueou–o facilmente e abriu o registro de chamadas.
De fato, houve chamadas de assédio durante toda a noite.
Havia também inúmeras mensagens chegando, todas com palavras ofensivas.
A mensagem geral era que ela tinha seduzido o marido de alguém, causando uma fuga no casamento, entre outras acusações vergonhosas.
Assim que ele ligou o celular, outra ligação chegou e Nelson atendeu.
A voz do outro lado parecia a de uma mulher de meia–idade: “Sua mulher sem vergonha, seduzindo o marido de outra pessoa, você vai pagar caro por isso…”
A casa inteira estava cheia de pessoas de alta linhagem, onde se poderia ouvir palavras tão grosseiras vindas da rua?
Nelson, então, sem dizer uma palavra, desligou o telefone, achando indigno discutir com uma mulher fora de controle.
“Minha pobre filha, como ela pôde se envolver em algo assim, quem seria capaz de fazer uma coisa dessas…” – Minha mãe disse, olhando para a pessoa ainda inconsciente, com os olhos cheios de dor.
Nelson, com um olhar sombrio em seu rosto, afirmou categoricamente: “Foi a Marlene, só pode
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Capítulo 25
ter sido ela!”
Minha família e meu marido nem se deram ao trabalho de investigar e já me condenaram precipitadamente.
Assim como em inúmeras ocasiões nos últimos anos, com as constantes intrigas de Mirella, eu era sempre vista como a culpada, a vilã.
Não importava o que eu fizesse, tudo parecia ser um erro imperdoável.
Da cama veio uma voz fraca: “Papai, mamãe, Nelson, não culpem a irmã, eu não deveria ter feito aquela ligação e arruinado o casamento dela. Se alguém tem culpa, sou eu…”
Mirella, com o rosto pálido, chorava e se arrependia na cama do hospital.
Essa tática, não importava quantas vezes usada, sempre funcionava, fazendo com que a família a visse com ainda mais piedade.
Mirella segurou a manga de Nelson com um olhar frágil: “Nelson, você não ia buscar a minha irmā hoje? Vá, por favor, eu estou bem. Quando chegar em Cidade das Flores, peça desculpas a ela por mim. A culpa é minha. Quando ela voltar, prometo que vou embora para o exterior e nunca mais apareço na frente dela.”
“Como você pode pensar em ir para o exterior com sua saúde tão debilitada?”
“Exato! Nem se preocupe com a Marlene, aquela garota ingrata. Nunca vi alguém tão sensível e mesquinha. Fazer birra tem limite! Você só ligou para o Nelson em uma situação urgente, e ela, sem dizer nada, simplesmente foi embora. Agora, faz todo esse escândalo, passando dos limites! É realmente detestável!”
Nelson mudou de ideia: “Não vou mais a Cidade das Flores buscá–la. Daqui a alguns dias é o aniversário da vovó, e ela certamente voltará por conta própria.”
Enquanto olhava a neve dançando do lado de fora, apenas um pensamento me atravessava a mente: não poderei estar lá para o aniversário da vovó…
‘Será que, então, vocês vão perceber que nunca fui para Cidade das Flores?
Que, na verdade, já estou morta?‘
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