Capítulo 2
Eu senti um frio percorrer meu corpo, pois mais de vinte anos de sentimentos foram reduzidos a nada.
Até mesmo quando pensava em mim, era só depois de ter estado com Mirella em momentos de intimidade que se dignava a lembrar de mim, uma pessoa que já estava morta.
Du du du…
O celular tocou mais de três vezes sem que ele ouvisse minha voz.
Vale a pena deixar claro que, por Nelson, eu ficava disponível 24 horas por dia no passado, sempre atendendo suas ligações antes mesmo do terceiro toque.
Mas Nelson, eu já estava morta, como poderia atender o telefone?
Nelson franziu a testa, preocupado: “Mirella, vou checar a localização que a Marlene mandou.”
Então ele finalmente se lembrou de mim?
Antes de morrer, enviei minha localização à beira do rio para o Nelson, na esperança de que ele
pudesse pelo menos encontrar meu corpo.
Com o tempo, eu não sabia o que aquele assassino planejado faria com meus restos mortais.
Uma pequena mão agarrou seu pulso.
Mirella olhou para ele com uma expressão de pena: “Nelson, você pode ficar comigo, por
favor?”
Nelson hesitou por um momento: “Mas a Marlene…”
“Ela sempre gostou de um pouco de drama. Lembra de quando ela disse que estava no hospital para uma cirurgia, e você largou negócios de bilhões para voltar correndo? E no final, ela não estava cheia de energia? Sem contar quando disse que estava sendo seguida… e não aconteceu nada, não é?”
“Minha irmã foi mimada por nossa família desde pequena, ela adora essas encenações. Ela é a filha da família Barbosa, quem poderia querer machucá–la?”
Essas palavras dissiparam a hesitação de Nelson, e ele massageou a testa com cansaço.
“Se ao menos a Marlene fosse tão sensata quanto você.”
Mirella sorriu, e eu também sorri.
Afinal de contas, ele costumava dizer: “Somente crianças mal amadas precisam ser sensatas, minha Marlene pode ser livre e impulsiva.”
Nelson não veio realmente me procurar, levando Mirella para o que seria o nosso lar matrimonial.
1/3
14:43
Capítulo 2
Fiquei parada na porta, sem querer deixá–la passar.
Era como tentar parar um carro com as mãos.
Mirella sorriu enquanto atravessava o meu corpo.
Parecia que, viva ou morta, eu não podia impedi–la.
Mirella saiu do banheiro vestindo minha camisola, uma surpresa que eu havia preparado para Nelson em nossa noite de núpcias.
Vendo o corpo esbelto sob o tecido fino, Nelson engoliu em seco, um sinal de seu desejo.
Depois de tanto tempo juntos, como eu não poderia saber que isso era um prelúdio da paixão dele?
Ao ver o flerte entre eles, fiquei furiosa e angustiada.
“Mirella, essas são as roupas da Marlene” – lembrou–se Nelson.
“Eu sei.” – Ela passou os braços em volta do pescoço de Nelson: “Nelson, eu sei que você já não gosta mais da minha irmã. A pessoa que você ama sou eu, não é?”
“Mirella, já chega” – a voz de Nelson ficou fria.
As lágrimas de Mirella caíram com força, ela parecia uma criatura abandonada, chorando em desespero: “Eu não sou gananciosa, só peço uma noite. Só uma noite, pode ser? Nelson, eu quero ser a sua mulher.”
“Posso concordar com qualquer coisa, menos com isso!” – Nelson a empurrou para longe.
Mirella bateu o pé: “Tudo bem, então. Se você não me quiser, eu me entrego a outra pessoa, seja o entregador, o faxineiro, um modelo ou até mesmo um mendigo debaixo da ponte!”
“Isso é um absurdo!”
“De qualquer forma, você já não me quer mais. Nem mesmo esse desejo meu você está disposto a realizar, então eu vou…”
Nelson a abraçou, selando seus lábios com um beijo.
Meu grito de coração partido não foi ouvido por ninguém.
Nelson, o homem que eu havia amado por mais de dez anos, estava agora com minha irmã em nosso lar matrimonial.
Observei durante toda a noite enquanto Nelson liberava todas as emoções que havia reprimido. A luz da manhã iluminava o corpo marcado de Mirella, que envergonhada, se aninhava no peito de Nelson.
Nelson, agora lúcido, mostrava um arrependimento em seu rosto: “Mirella, sobre a noite
passada…”
2/3
14:19
Capitulo 2
Soltei uma risada fria.
Tudo o que tinha que ser feito já foi feito.
Agora se arrepender… de que adianta?
Sujo!
“Nelson, fique tranquilo, eu nunca contarei à minha irmã. Eu vou estudar fora do país e nunca mais aparecerei na vida de vocês.”
Nelson franziu a testa: “Quem disse que você poderia ir embora? Você…”
Antes que ele pudesse terminar, o celular tocou.
Nelson o atendeu.
Do outro lado da linha, uma voz masculina séria disse: “Sr. Lopes, hoje de manhã, alguém resgatou um vestido de noiva de alta costura no Rio das Orquídeas. Após verificação, ele foi identificado como o vestido que sua esposa Marlene Barbosa estava usando ontem. Por favor, compareça à delegacia de polícia para ajudar na investigação.”
212