Capítulo 12 

Nilton foi embora e Nelson ficou parado à beira do rio frio e desolado, olhando fixamente para o celular. 

A tela acendia e apagava. 

Inúmeras mensagens chegavam, mas nenhuma era minha. 

Provavelmente ele estava lembrando do passado. 

Naquela época, eu já havia notado a mudança em sua atitude em relação a Mirella e, com frequência, me irritava por isso. 

No entanto, depois, sempre acabava pensando que estava sendo mesquinha demais. 

Afinal, Mirella era sua meia–irmã, e não havia nada de errado em ele ser mais atencioso com ela. 

Aprendi a me enganar, revirando meus próprios pensamentos várias vezes, acreditando que não deveria deixar que essas pequenas coisas afetassem a harmonia entre as famílias e, quando entendi isso, tentei fazer as pazes. 

Já haviam se passado vinte e quatro horas desde a última mensagem que eu havia enviado. 

Nesse dia, eu desapareci sem deixar vestígios. 

“Tum!” 

Nelson jogou uma pedra na água, acompanhado de sua voz irritada: “Faça birra a vontade, vamos ver quantos dias você aguenta dessa vez.” 

Fiquei ao lado dele, sorrindo amargamente. 

Nas ocasiões em que brigávamos muito, eu nunca ficava ausente por mais de três dias. 

Ele acreditava que conhecia bem minha natureza e que eu não seria capaz de causar problemas. 

Eu observava silenciosamente seu rosto bonito tingido de raiva. 

Naquele acampamento de verão, quando eu tinha doze anos, fiquei presa na montanha por causa de uma tempestade, e foi ele quem, arriscando–se a deslizamentos, voltou montanha acima para me encontrar. 

Eu corri para seus braços, chorando, perguntando por que ele tinha sido tão tolo. E se eu o prejudicasse? 

Coberto de lama, mas com um sorriso luminoso nos lábios, ele disse que só de pensar em mim, sozinha lá fora, com medo, triste, sentindo–se injustiçada, ele tinha vontade de criar asas 

e voar até mim. 

Naquela época, eu era muito jovem para entender o amor, só sabia que seus braços eram um 

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lugar quente e que seria bom se ele pudesse me proteger para sempre. 

Agora, ele estava claramente errado, mas não demonstrou o menor arrependimento, pelo contrário, achou que eu estava fazendo um drama. 

Quando o coração mudou, até mesmo respirar pareia um erro. 

No quarto dia após minha morte, Nelson finalmente começou a se desesperar. 

Ele abriu a página de mensagens, que ainda mostrava sua última mensagem de voz. 

Meu celular ainda estava desligado. 

“Sr. Lopes, seu café.” – O assistente lhe trouxe uma xícara de café para acordá–lo. 

Foi então que Nelson percebeu que havia passado meia hora olhando para o celular. 

Quatro dias haviam se passado, mesmo que Marlene estivesse chateada, era hora de parar, não era? 

Nelson se levantou, pegou seu casaco e saiu às 

pressas. 

“Sr. Lopes, o senhor tem uma reunião importante em breve.” 

“Remarque.” 

Nelson não olhou para trás e dirigiu até o centro da cidade para encontrar Rosana Rocha. 

“Professora Rocha, alguém está procurando por você.” 

Aproximei–me rapidamente. 

Rosana era minha amiga do ensino médio, forçada pelos pais a abandonar sua área de estudo para cursar pedagogia e, agora, dava aulas em uma escola secundária. 

Ela conhecia meu sofrimento, por isso não estava disposta a ser gentil com Nelson: “O que você está fazendo aqui?” 

“A Marlene está com você? Diga a ela que continuar com esse drama não vai agradar a ninguém…” 

Rosana o interrompeu com uma voz firme: “Nossa, Nelson, você tá maluco? Quem foi que a deixou plantada no altar, não foi você? Que história é essa de que ela está ‘fazendo drama‘? Na frente de todos os convidados, foi ela quem teve que pedir desculpas um por um. Me diz, quem é que realmente não tem vergonha na cara aqui?” 

Essas palavras atingiram Nelson diretamente no coração, fazendo–o parecer envergonhado. 

“Eu não tenho que lhe explicar nada, ligue para ela e diga para ela voltar para casa agora!” 

Foi então que Rosana ficou sabendo que eu não estava em casa nos últimos dias e não pôde continuar repreendendo Nelson: “Marlene não está em casa?” 

“Pare de fingir! Você é a melhor amiga dela. Toda vez que brigamos, não é para você que ela 

corre?” 

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Era realmente assim. 

Rosana era minha amiga inseparável. 

Fora ela, eu não tinha mais ninguém a quem recorrer. 

Portanto, Nelson não me procurou nos últimos dias pensando que eu estava com Rosana. 

Rosana ficou pálida: “Vá procurar o que fazer! Minha avó está doente, eu voltei para minha cidade natal logo após o casamento e só voltei ao trabalho hoje. O que aconteceu com Marlene? Foi você, seu idiota, que a fez ficar chateada de novo?” 

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