Capítulo 26
Minha vovó era a única na família que não me detestava por causa do teatro que Mirella
armava.
Infelizmente, sua saúde deteriorou–se cada vez mais, e ela já estava acamada há seis meses.
Ela viu a injustiça que eu estava sofrendo e, uma semana antes do meu casamento, quando fui visitá–la, minha vovó acariciou minha cabeça e disse gentilmente: “Minha querida neta, se você não quer se casar, então não se case. Se ele não for o homem certo, o casamento só
trará dor.”
Naquela época, tudo o que eu queria era revelar a verdade e me vingar no dia do casamento, por isso recusei sua oferta.
“Não se preocupe, vovó, eu sei o que estou fazendo. Você precisa se recuperar logo.”
“Minha querida, vou aguentar firme até o aniversário, eu prometo. Sei que você tem passado por muitos momentos difíceis desde que a Mirella voltou. Mas, para mim, você sempre é minha menina preciosa. Naquele dia, eu tenho um grande presente reservado para você.”
Minha vovó possuía 5% das ações da empresa, e quando Mirella voltou, a família sugeriu transferir essas ações para ela como compensação, mas minha vovó recusou.
Eu sabia que ela estava guardando–as para que eu não ficasse sem nada no futuro.
Infelizmente, depois de tanto planejar, minha vovó não conseguiu me entregar esse presente.
Nelson rapidamente resolveu o problema das ligações e mensagens de assédio, e seu desgosto por mim se aprofundou.
Para cuidar de Mirella, ele preparou caldo, e esfriou cada colherada antes de alimentá–la, com todo o cuidado do mundo, não sobrando espaço para pensar em mim.
Eu sabia que esse tempo seria suficiente para me fazer desaparecer sem deixar rastros se aquele homem escondido realmente quisesse fazer algo contra mim.
Eu estava apenas curiosa: que expressão eles teriam ao saber da minha morte?
Eles sentiriam um pingo de arrependimento por terem sido tão cruéis comigo hoje?
Nelson, preocupado com o fato de que Mirella ficaria ainda mais perturbada, decidiu ficar e acompanhá–la durante a noite.
Ele acordou no meio da noite, assustado com um pesadelo.
“Nelson, você teve um pesadelo?”
Talvez pelo movimento brusco ao se levantar, ele acabou despertando Mirella, que imediatamente perguntou com preocupação.
Nelson passou a mão pelo suor frio em sua testa, parecendo pálido.
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“Eu… eu estou bem.”
Mirella se aproximou dele: “Que sonho o deixou assim?”
“Sonhei que a Marlene tinha morrido. Havia muito sangue e ela estava me pedindo ajuda.”
Mirella lhe deu um tapinha nas costas: “Não tenha medo, Nelson. Os sonhos são o oposto da realidade, o que significa que minha irmã está muito feliz e saudável agora.”
Nelson esfregou as têmporas, parecendo cansado: “Eu tive esse mesmo sonho várias noites. seguidas.”
“Deve ser porque você está muito preocupado com minha irmã. Se você não consegue parar de pensar nisso, talvez devêssemos trazê–la de volta mais cedo, assim eu também ficaria mais
tranquila.”
O olhar de Nelson mostrou hesitação: “Então…“.
“Espero que minha irmã não fique chateada comigo quando voltar. Tive sorte dessa vez, mas
nem sempre posso contar com a sorte.”
Ao ouvir isso, Nelson desistiu da ideia, acariciando a cabeça dela: “Melhor não, vamos deixá–la na Cidade das Flores para se acalmar.”
Na manhã seguinte, um membro da família Barbosa veio buscar Mirella para receber alta.
Notei que meus pais estavam com uma expressão cansada, como se não tivessem dormido bem, provavelmente preocupados com a saúde de Mirella.
“Papai, mamãe, vocês não dormiram bem?”
Minha mãe massageou a testa: “Com certeza é essa garota ingrata da Marlene causando problemas demais ultimamente, por isso não paro de ter pesadelos.”
“Você também sonhou com a Marlene?” – Meu pai olhou para minha mãe, surpreso.
Até Nelson, que estava se preparando para o trabalho, parou.
“Sim, aquela garota estava fingindo estar morta, mas eu sonhei que ela realmente tinha
morrido.”
Se uma pessoa tem um mesmo sonho, pode ser uma coincidência, mas se várias pessoas o têm, torna–se algo estranho.
Mirella disse de repente: “Será que minha irmã…”
Nelson a interrompeu abruptamente: “Impossível! Como pode a Marlene estar morta!”
“Nelson, você entendeu errado. O que eu queria dizer é: por que minha irmã escolheu justamente Cidade das Flores, onde há tantos cultos estranhos, com tantos lugares para ir? Sempre ouço dizer que alguns desses seguidores na fronteira usam feitiçarias para prejudicar as pessoas. Vocês todos têm estado inquietos ultimamente, e eu mesma quase perdi a vida ontem… Será que minha irmã…”
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14:52
Capítulo 26
Minha mãe bateu na mesa: “Não é à toa que não consigo dormir à noite. Será que aquela garota usou alguma magia negra para nos amaldiçoar?”
Meu pai apressou–se em acalmar minha mãe.
Ele tendou a ser bastante influenciável, normalmente deixando minha mãe tomar as decisões em casa, mas, numa rara ocasião, ele falou em minha defesa: “Afinal, somos uma família. Que benefício ela teria em nos prejudicar? Além disso, essas são superstições antigas, não devem ser levadas a sério.”
Ao saírem do hospital após a alta de Mirella, ainda era possível ouvir sua voz, carregada de insinuações sutis: “Mamãe, estou só comentando. Não leve tão a sério.”
“Quando aquela ingrata voltar, com certeza vou ter uma conversa séria com ela…”
Segui ao lado de Nelson, observando seu rosto preocupado, que parecera distante o dia todo.
A situação não melhorava, na verdade, só piorava.
Ele acordava todas as noites em um banho de suor, depois de pesadelos.
Meu celular continuava fora de alcance.
Ele tentou de todas as formas pegar um voo para Cidade das Flores, mas, ora os voos eram cancelados por conta do mau tempo, ora estavam completamente lotados.
Com a proximidade do aniversário da vovó, ele desistiu da ideia.
Ele estava tão convencido quanto a família Barbosa de que eu voltaria para o aniversário da νονό.
Mas a verdade era que… eu não poderia mais voltar.
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