Capítulo 24
Nelson ficou atônito por um momento antes de reagir, com o rosto pálido: “E a Marlene?”
“A senhora não está ainda na Cidade das Flores? O que aconteceu com o senhor?”
Nelson, com uma expressão intrigada, murmurou: “Então foi só um sonho.”
“Com certeza foi você que pensa demais durante o dia, então sonha à noite. O senhor deve estar sentindo muita falta da senhora. As flores e o presente estão prontos, podemos sair a qualquer momento. Mas, sinceramente, o senhor não parece bem. Que tal irmos ao hospital primeiro?”
A expressão de Nelson parecia hesitante.
Ninguém sabia ao certo o que ele havia sonhado na noite anterior.
“Não, vamos direto para o aeroporto, prepare minhas roupas.”
Com o rosto sério, Nelson dirigiu–se ao banheiro.
O assistente, aguardando ao lado da porta, havia escolhido um terno bege para ele.
Nelson saiu após uma rápida higienização, estendendo a mão para pegar o terno, mas parou de repente ao vê–lo. “Troque por outro.”
Nelson, com uma expressão de desagrado, disse: “Deixa pra lá, eu mesmo escolho.”
Com raiva, ele abriu o armário e encontrou apenas ternos de cores claras.
Foi então que Nelson percebeu que não usava cores escuras há muito tempo e que eu não comprava roupas novas para ele há um ano.
Não era apenas o closet, mas todo o quarto principal estava repleto de tudo relacionado a Mirella.
Em contrapartida, eu já havia me distanciado dele há muito tempo.
Nelson abriu todos os armários e finalmente encontrou no último uma roupa preta que estava guardada há muito tempo.
O terno estava embrulhado em uma capa de lavanderia, passado e sem poeira.
Aquele terno era o mesmo que ele usara no nosso noivado.
Naquela época, seus olhos estavam voltados só para mim, e ele estava tão nervoso que nem conseguia ajustar direito a gravata.
Eu me lembrava de estar vestida com um vestido branco naquele dia, ajustando a gravata dele
com carinho.
Nossos olhares se encontraram, cheios de ternura.
Eu sorri: “Nelson de terno é tão atraente que chega a ser um pecado.”
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Capítulo 24
Levantei–me na ponta dos pés e o beijei suavemente nos lábios.
Tínhamos dezoito anos, e o amor parecia como uma brisa suave de primavera, tão puro e repleto de promessas.
Agora, ao escolher aquele mesmo terno, talvez Nelson estivesse tentando restaurar algo entre
nós.
Mas ao se encarar no espelho, não havia mais o brilho ansioso e juvenil de antes.
Sua expressão era sombria e madura.
Os sentimentos eram como o próprio tempo, não podiam simplesmente voltar atrás.
“Vamos para o aeroporto.”
“Ainda é cedo, que tal o Sr. Lopes tomar café da manhã primeiro? A senhora disse que você tem problemas de estômago e precisa comer pontualmente.”
Nelson hesitou com a mão na maçaneta, e o assistente, temendo uma reclamação por sua insistência, explicou cuidadosamente: “Se o senhor não tiver fome, não precisa comer, há refeição no avião.”
“Não, vou comer em casa mesmo. Peça para preparar algo simples.”
Nelson comeu distraidamente e se levantou: “Prepare o carro, estamos indo para o aeroporto.”
Ele parecia um pouco agitado, embora ainda estivesse longe da hora do voo.
Mas, antes que pudesse sair, ouviu–se a voz aflita de uma empregada vindo do andar de cima: “Senhor, depressa! A senhorita Marella desmaiou!”
A pessoa que estava prestes a sair passou por mim como um vendaval.
Em questão de segundos, já estava de volta com Mirella nos braços, descendo as escadas apressado e indo diretamente para o carro.
O assistente perguntou com cautela: “Para o aeroporto?”
“Para o hospital.”
Ninguém ficou surpreso com essa decisão, porque sempre que Mirella e eu tínhamos um problema nos últimos dois anos, ele sempre escolhia Mirella sem hesitar.
Desta vez, não foi diferente.
Já insensível a tudo, eu não sentia mais tristeza, apenas uma profunda apatia.
De pé ao lado do carro, levantei os olhos para o segundo andar.
No terraço, vi duas figuras: uma de pé, outra sentada.
Sentado na cadeira de rodas, Nilton olhava para tudo aquilo com indiferença, com os lábios finos curvados em um sorriso cínico e zombeteiro.