Capítulo 66
Minha mãe aproximou–se de forma agradável, e notei que ela carregava um presente que parecia uma pequena caixa. O que ela estaria entregando tão tarde da noite?
“Mamãe, eu sei que você tem estado chateada recentemente e ouvi dizer que seu apetite diminuiu muito. Isso não é bom. Mirella, foi muito atenta. Ela se esforçou para ir ao leilão e conseguiu arrematar duas coleções de pratos de porcelana.”
“Leve embora, eu não preciso disso.” – Minha vovó respondeu friamente: “Eu não quero nada vindo dela.”
“Mamãe, pelo menos olhe antes de decidir.”
Minha mãe disse isso e pegou os pratos, que era um belo conjunto de porcelana azul e branca.
Era delicado e elegante, com um fundo branco e desenhos azuis.
No entanto, em vez de flores, pássaros, insetos ou peixes, havia uma escrita em outra idioma.
“O que é isso?”
“Veja como esse conjunto é precioso. Ele foi feito por dois mestres de áreas diferentes.”
“Áreas diferentes?” – Um olhar de suspeita passou pelos olhos de minha vovó.
“Sim, a base da louça foi feita por um mestre ceramista, mas escritos por cima são de um famoso homem santo. Esta louça carrega uma essência devota.”
Ao ouvir a palavra “devota“, a expressão da minha vovó mudou: “Verdade?”
“Claro, Mirella sabe que você pratica a religião e foi com muito esforço que ela conseguiu comprar isso. Foi feito pelas mãos de dois mestres renomados. Como muitas pessoas queriam, a Mirella pagou um preço alto por isso. Usando esses pratos para comer, com certeza você terá uma vida longa e saudável.”
“Então, deixe–os.”
Minha vovó tornou–se extremamente devota em seus últimos anos, quase de uma forma doentia.
Entendia que, quanto mais poder e status uma pessoa tinha, mais ela temia a morte.
Ela tinha tudo o que precisava, descendentes respeitosos, vivia uma vida de luxo e, após a morte do meu avô, o contato direto com a morte deixou–a com profundas cicatrizes psicológicas.
A ciência e a medicina só podiam aliviar temporariamente a dor que ela sentia, então ela se voltou para a espiritualidade, buscando os céus e praticando o que fosse recomendado na esperança de prolongar sua vida.
Essas coisas esotéricas sempre foram encaradas com um certo ceticismo.
1/2
Capitulo 66
As pessoas aqui tendiam a acreditar que era melhor acreditar do que duvidar.
Minha vovó olhou para minha mãe: “Você ainda está aqui?”
Minha mãe esfregou as mãos antes de falar: “Mamãe, na verdade, vim discutir outra coisa com você além de trazer o presente. Veja, Marlene já se casou, e agora ela faz parte da família Lopes. Ela e Nelson cresceram juntos, e a família Lopes é uma benção. Eu não me preocupo com ela. Mas estou preocupada com Mirella…”
Ela suspirou: “Após a morte de meu pai, a família Barbosa entrou em declínio e não conseguimos impedir. Se continuar assim, temo que Mirella não consiga encontrar uma boa família para se casar. Sei que você sempre quis deixar sua parte da herança para Marlene.”
Ao ouvir isso, minha vovó e eu entendemos a questão.
A expressão de minha vovó mudou radicalmente: “Se você veio buscar minha herança, pode esquecer. Prefiro doá–la para a Escola Primária Esperança do que deixá–la para a Mirella!”
“Mamãe, como pode ser tão parcial assim? Marlene é sua neta, mas Mirella também não é? Ela foi empurrada por Marlene e sofreu por tantos anos lá fora. Seu coração é feito de ferro? Não estou pedindo que favoreça ninguém, mas pelo menos seja justa e trate as duas de forma equilibrada.”
Eu pensei que tinha superado meu fracasso amoroso com Nelson, que poderia ver ele e Mirella juntos sem me afetar.
Mas, naquele momento, percebi que as feridas causadas pela minha família eram muito mais profundas.
O que aquilo representava diante da dor familiar?
Minha vovó ficou ao meu lado: “Você diz que eu sou parcial, mas e vocês? Naquela época, vocês acreditaram nas palavras de Mirella e logo condenaram Marlene. Quem pode provar que foi Marlene quem empurrou Mirella para água? Vocês a viram fazer isso com seus próprios
olhos?”
212