Capítulo 10 Ela sabe muito bem que eu já estou morto
- Depois que Carter foi embora, Luke ficou na margem fria e vazia do rio, olhando para o celular.
- A tela piscou com notificações, mas nenhuma era minha.
- Ele provavelmente estava pensando no passado. Eu tinha notado há muito tempo como sua atitude em relação a Anna havia mudado, e isso me aborreceu mais do que eu gostaria de admitir.
- Mas cada vez, depois que minha raiva explodia, eu me perguntava se eu estava sendo mesquinha. Anna era sua meia-irmã, afinal. Não havia nada de errado em ele ser gentil com ela.
- Então, eu me ensinei a ignorar isso, duvidando constantemente dos meus sentimentos, me convencendo de que não deveria deixar que pequenos problemas perturbassem a frágil paz entre nossas famílias. Eu sempre era a única a fazer as pazes com ele.
- Já se passaram 24 horas desde minha última mensagem.
- Fiquei desaparecido por um dia inteiro.
- Com um grunhido frustrado, Luke jogou uma pedra no rio. “Splash.”
- “Vá em frente, faça birra. Vamos ver quanto tempo você dura dessa vez,” ele murmurou, sua voz cortando o silêncio.
- Fiquei ao lado dele, com um sorriso amargo no rosto. Mesmo no meu pior momento, nunca fiquei longe por mais de três dias.
- Ele pensou que tinha me descoberto, certo de que eu nunca causaria problemas de verdade.
- Observei seu rosto bonito, agora nublado de frustração, e minha mente voltou para quando tínhamos 12 anos. No acampamento de verão, durante aquela terrível tempestade, fiquei preso na montanha. Luke arriscou um deslizamento de terra para vir me encontrar.
- Eu chorei quando finalmente me joguei em seus braços enlameados, com medo de que algo pudesse ter acontecido com ele por minha causa.
- Ele apenas sorriu, mesmo coberto de sujeira. “Eu não podia deixar você aqui em cima. O pensamento de você estar com medo me fez querer criar asas e voar até você.”
- Naquela época, eu não entendia o amor. Tudo o que eu sabia era que seu abraço era caloroso, e eu queria que ele me protegesse para sempre.
- Agora, mesmo que essa confusão fosse culpa dele, ele não sentia culpa. Ele achava que eu era o único irracional.
- Quando o coração de alguém muda, até mesmo sua respiração parece uma ofensa.
- No quarto dia após minha morte, Luke finalmente começou a entrar em pânico.
- Ele abriu nosso tópico de bate-papo e olhou para a última mensagem de voz que havia enviado.
- Meu telefone ainda estava desligado.
- “Sr. Bolton, seu café.” Roy colocou uma xícara na mesa, esperando tirá-lo do transe.
- Luke não percebeu que estava olhando para o celular há meia hora.
- Quatro dias. Mesmo que Chloe estivesse furiosa, ela já deveria ter se acalmado.
- Ele se levantou abruptamente, pegou seu casaco e foi em direção à porta.
- “Sr. Bolton, você tem uma reunião importante chegando”, Roy o lembrou.
- “Remarque.” Luke nem olhou para trás.
- Ele dirigiu direto para a cidade e encontrou Megan Gardner.
- “Sra. Gardner, tem alguém aqui para vê-la”, gritou um colega.
- Megan correu, seu rosto endureceu quando viu Luke. Ela era minha melhor amiga desde o ensino médio, forçada a dar aulas pelos pais, mas sempre do meu lado.
- Ela entendeu minha dor e mal conteve seu desprezo. “O que você quer?”
- “Chloe está com você, certo?” Luke retrucou. “Diga a ela para parar com essa cena ridícula. É constrangedor para todos.”
- Os olhos de Megan se estreitaram, sua voz fria. “Do que diabos você está falando, Luke? Você está delirando? Foi você quem a abandonou no casamento. Ela teve que se desculpar com todo mundo. Quem está causando essa cena aqui?”
- As palavras de Megan atingiram Luke com força, fazendo seu rosto ficar sombrio.
- “Não te devo nenhuma explicação. Apenas ligue para ela e diga para ela voltar para casa!”
- Foi só então que Megan percebeu que eu não estava em casa há dias. Ela não perdeu tempo xingando Luke e, em vez disso, perguntou: “Chloe não voltou para casa?”
- “Não se faça de bobo. Você é o melhor amigo dela. Toda vez que brigamos, ela corre até você,” Luke disse, seu tom afiado.
- Era verdade — Megan era minha confidente mais próxima. Eu não conseguia me abrir com mais ninguém além dela.
- Foi por isso que Luke presumiu que eu estava com ela esse tempo todo.
- A expressão de Megan mudou. “O que diabos você está dizendo? Minha avó está morrendo. Voltei para minha cidade natal depois do casamento e só voltei hoje. O que aconteceu com Chloe? Você a irritou de novo, seu babaca?”
- Luke olhou para os olhos cansados e injetados de sangue dela, as olheiras abaixo deles, os lábios rachados. Era óbvio que ela não dormia há dias — ela não estava mentindo.
- Chloe não estava com ela. Então, onde ela estava nos últimos dias?
- Luke se virou e saiu furioso, mas a voz de Megan o perseguiu. “Luke, se algo aconteceu com Chloe, eu não vou deixar você escapar!”
- Estendi a mão, querendo tirar o cabelo solto do rosto de Megan, mas ela passou direto por ela.
- Suspirei desamparadamente. “Megan, desculpe por não ter cumprido minha promessa. Você tem que ficar feliz.”
- Eu não podia mais tocá-la. Ela nunca mais ouviria minha voz.
- De repente, fui puxado para longe, puxado de volta para o lado de Luke enquanto ele atendia um telefonema enquanto dirigia. Quando ele desligou, seu rosto parecia sombrio.
- Ele ligou para Roy. “Roy, olhe para Chloe para mim—”
- Dei uma risada amarga. O homem que amei por anos estava apenas agora, no quarto dia do meu desaparecimento, começando a se importar.
- A essa altura, meu corpo provavelmente estava começando a apodrecer.
- Antes que Luke pudesse terminar a ligação, Anna abriu a porta do carro e se jogou em cima dele.
- “Luke! Por que você tem me evitado esses últimos dois dias?” ela choramingou, fazendo beicinho como se ela fosse a única que tinha sido injustiçada.
- Luke, não querendo que o relacionamento deles fosse exposto, desligou na cara de Roy.
- Ele parecia exausto, esgotado demais para lidar com Anna.
- “Anna, tenho uma reunião. Se não for urgente, preciso voltar para o escritório.”
- Ela agarrou-se ao braço dele, recusando-se a soltá-lo. “Mas Luke, minha exposição de arte abre hoje! Você não vai me apoiar?”
- Foi como se ele finalmente tivesse saído da névoa.
- Ele estava tão absorto no trabalho nos últimos dias que não apenas ignorou o desaparecimento de Chloe como também se esqueceu da exposição de arte de Anna, que ela estava preparando há mais de um ano.
- “A culpa é minha. Vamos lá.”
- Olhei para o telefone que ele havia jogado fora e dei um sorriso amargo.
- Tantos anos desperdiçados com o homem errado.
- A exposição de arte de Anna foi na Lagoon Gallery, o lugar onde sempre sonhei em mostrar meu próprio trabalho.
- Desde que éramos crianças, Anna e eu amávamos pintar.
- Meu pai, Tyler Sander, até providenciou que tivéssemos como mentor o antigo reitor da Centria University of Art & Design.
- O reitor sempre disse que eu era o aluno mais talentoso que ele já havia ensinado.
- Mas em uma família como a minha, pintar era apenas um hobby.
- Meus pais queriam que nos concentrássemos nos negócios, para administrar a empresa da família Sanders ou, quando nos casássemos, sermos esposas solidárias — não artistas cabeças de vento.
- Passei anos pintando em particular, esperando um dia ter tempo para abrir minha própria galeria.
- Mas esse sonho morreu comigo. Agora, Anna estava vivendo-o.
- Ela e eu sempre fomos diferentes. Quando meus pais a encontraram depois de anos de busca, eles a mimaram infinitamente.
- Se ela quisesse as estrelas, eles tentariam puxá-las do céu. Ela nunca teve que arcar com nenhuma responsabilidade real.
- Segui Luke e Anna até a galeria, sentindo um nó de amargura no peito.
- Eu morri tão de repente, com tanta coisa por fazer.
- Lá dentro, ouvi os murmúrios de admiração da multidão. “O trabalho da Sra. Sander é extraordinário. Ela é tão talentosa.”
- “Ela é realmente abençoada com talento. Este Lotus Dreamscape é simplesmente de tirar o fôlego.”
- Paisagem de sonho de lótus?
- Olhei para cima—e meu sangue congelou. A pintura na minha frente era minha.
- Examinei a galeria, meu coração afundando ainda mais. Não era só aquela. Várias peças — minhas peças, do estúdio do porão — estavam espalhadas pela sala.
- Anna roubou meu trabalho e o fez passar por seu.
- Como ela pôde? Ela não teria ousado a menos que tivesse certeza de que eu estava morto.
- Foi ela. Deve ter sido ela quem contratou alguém para me matar.